Na véspera de um Natal, Santana perderia um ídolo do futebol amapaense

Time do Santana Esporte Clube na década de 1950
Se existe um nome que atravessou diversas gerações da história do futebol amapaense por mais de meio século, se tornando um sinônimo de agilidade e destreza com uma bola nos pés, com certeza essa façanha foi marcada por um simples caboclo do Norte brasileiro batizado nesse mundo pelo codinome Pedro de Oliveira Gomes, que por aqui se encostou em meados da década de 1950 com intuito de trabalhar numa empresa que estava inicialmente implantando um ousado projeto de exploração e exportação de minério de manganês. 

Nascido em 30 de maio de 1931, Pedro era natural duma localidade denominada Quitéria (na época subdistrito do município de Viseu, no Pará), de onde saiu na adolescência para ir morar na capital paraense (a Belém/PA), indo residir no bairro da Cidade Velha, com sua tia paterna, D. Riquinha. 

Jogador Pedro Bala
Nesse período, começou a sua carreira desportista no consagrado Clube do Remo, só se desligando do Leão Azul quando foi convidado a jogar no Santana Esporte Clube (agremiação no então Território Federal do Amapá) em 1957, concomitante à oferta de emprego na ICOMI. 

Assim, condicionado a atuar no clube do “canário” (como era conhecido o Santana Esporte Clube), aceitou o emprego na ICOMI e se mudou para o Amapá. 

Desde seu início de trabalho na ICOMI, sempre desempenhou suas funções nos setores administrativos da mesma. 

Um artilheiro no “canário” 
Nos primeiros jogos atuou apenas na reserva dos zagueiros, entrando pela primeira vez em campo somente na tarde do dia 20 de abril de 1957, quando o Santana Esporte Clube jogou contra o Guarany Atlético Clube (de Macapá), no Estádio Municipal (atual Estádio Glicério Marques), onde aquele jogador novato surpreenderia até mesmo a equipe técnica do time adversário após marcar os dois únicos gols da partida que favoreceram o clube do porto. 

Segundo registros da imprensa da época, a rapidez com que Pedro Gomes lidava com a bola entre o time adversário lhe rendeu inúmeros elogios publicados em jornais impressos e espalhados nas ondas do rádio AM da região, logo recebendo a alcunha de “Pedro Bala”.

Clube "canarinho" erguendo a taça de campeão
Sua fama pelo âmbito esportivo não lhe obrigou a se afastar das funções profissionais na ICOMI, mas recebia diversas autorizações de dispensa do local de trabalho para acompanhar seu clube do coração nas partidas de futebol. 

Em junho de 1959, Pedro Bala faria parte de um momento marcante durante a estadia do time oficial do Fluminense (RJ) no Amapá. 

O Tricolor carioca realizou três certames com times amapaenses que foram: Amapá Clube, Esporte Macapá e Santana Esporte Clube. O placar ficou em 2 x 0, 3 x 0, e 4 x 1, respectivamente, todos favorecendo o time carioca. 

O curioso desses três jogos foi que o único gol feito por um time amapaense foi justamente de autoria de Pedro Bala. 

A família 
Em sua vida pessoal, casou-se uma única vez, numa cerimônia ocorrida no dia 07 de julho de 1962 com Raimunda Nonato Pacheco Gomes, que na época reinava como Rainha do Carnaval 1962 e Miss Amapá 1962, ambos os títulos conquistados defendendo – coincidentemente – o Santana Esporte Clube. 

Tininha: Única filha do saudoso jogador
Pode-se dizer que partiu desta iniciativa da agremiação de oferecer aos nubentes uma majestosa festa, que contou com de mil convidados. 

A cerimônia desse casamento ocorreu na Igreja-Matriz de São José (em Macapá) não cabendo tantos convidados e curiosos, que, então, queriam assistir ao casamento da Rainha e Miss com o eminente craque e ídolo da torcida amapaense. 

“Uma maravilhosa união entre a beleza amapaense com o futebol local”, assim destacou um subtítulo em um jornal da época. 

Sua Trágica Morte 
O ano de 1962 ficaria nacionalmente conhecido pelo bicampeonato conquistado pela Seleção Brasileira no Chile e até na vida do povo amapaense. 

No Território do Amapá, o tradicional Campeonato Amapaense de Futebol iniciou logo após o termino da Copa do Mundo, e o Santana Esporte Clube era então o time local mais cogitado para erguer a taça desse campeonato, pois, já havia vencido os campeonatos anteriores de 1960 e 1961. 

Raimunda e a filha Tininha Gomes
Porém, a união daquele expressivo artilheiro com uma das mais belas mulheres do Norte do Brasil duraria até o mês de dezembro daquele ano, quando na véspera de Natal (dia 24 de dezembro), por volta das 8h da 1ª manhã de suas férias, dirigiu-se para tomar o transporte próprio da ICOMI com destino à capital (Macapá) e enquanto aguardava, passou em uma lambreta, já com alguém na garupa, seu amigo, Sr. Alfredo. 

A pedido dele, Pedro Bala, justificando que não queria demorar a voltar pra casa, pois a esposa (Raimundinha) ficara sozinha e estava grávida. Em consideração ao apelo do amigo, trocou sua vaga no transporte conduzido pelo Sr. Pedro Conceição pela carona na garupa da lambreta do amigo Alfredo. 

Às proximidades do lugarejo Coração, antes de 9:30h daquela manhã, um veículo em ultrapassagem, atingiu os dois viajantes da lambreta (Pedro e Alfredo), que faleceram de imediato, no local. 

A notícia do fato ecoou rapidamente pelos quatro cantos da cidade pela única emissora de rádio do Amapá (Difusora), informando: “Desastre na Rodovia Porto de Santana-Macapá”. 

O sepultamento ocorreu naquele mesmo dia 24 de dezembro, por volta das 19:00h e toda a programação natalina que o Santana Esporte Clube organizara para as vésperas do Natal foi cancelada em luto total. 

Houve um grande reconhecimento deixado pelo poder público ocorreu em 1986, quando o então prefeito de Macapá Raimundo de Azevedo Costa, sancionou o Decreto Municipal 0109/86, dando seu nome para uma avenida situada no bairro Nova Esperança, mantendo assim a boa lembrança do jogador nº 01 do “Canário”, do funcionário padrão da ICOMI, e de um atleta que deixaria um legado escrito na história do futebol amapaense. 

Filha e mãe juntas
Uma filha pós-morte 
Por um presente Divino, Pedro Bala não chegou a ter filhos em vida, porém, Raimundo Pacheco – sua companheira até o momento de inesperada morte – estava grávida de cinco meses quando o fatídico aconteceu. 

A surpresa viria em 21 de maio de 1963, com o nascimento de Ouzitinha de Jesus Pacheco Gomes, ocorrido no Hospital da Vila Amazonas, em Santana/AP. Ouzitinha (conhecida como Tininha Gomes) reside atualmente em Belém (PA), já sua genitora – Dona Raimunda – mora na capital paulista (SP). 

Tanto a filha quanto a mãe costumam visitar periodicamente o Amapá, o Estado que um dia abrigou um simples cidadão paraense que por aqui escreveria seu nome nos campos de futebol.

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