Em 70 anos de história, prédio mais antigo de Santana já serviu até como “necrotério provisório”

Galpão foi construído em outubro de 1947
Localizado no berço da civilização do segundo maior município amapaense, uma modesta edificação construída em meados da década de 1940 já ocupou diversos setores e serviços comunitários, mas bem pouco observado (de modo histórico) por aqueles que passam diariamente ao seu redor. 

Eis que o famoso “Galpão do Porto” (como chegou a ser várias vezes chamado pelas autoridades na década de 1950) guarda inúmeras histórias marcantes e algumas até curiosamente sinistras para que quem reside há pouco tempo na cidade de Santana. 

Galpão serviu para guardar materiais da ICOMI
Sua construção foi idealizada em outubro de 1947, logo depois que o governador do então Território Federal do Amapá Capitão Janary Gentil Nunes, recebeu das mãos do engenheiro Antônio Furtado uma cópia do Plano de Aproveitamento dos Minérios de Manganês do Amapá, onde constava a necessidade de um local para o embarque e saída do referido minério recém-descoberto na região de Serra do Navio. 

Apesar da ideia de se construir uma megaestrutura portuária nessa região de Santana, por razão da exploração do minério de manganês, Janary já mantinha o interesse de erguer uma grande edificação que ficasse entre as cidades de Macapá e Mazagão, como forma de agregar e armazenar os produtos agrícolas recolhidos das colônias interioranas do Território. 

1951: Ao fundo, o galpão já existente em Santana
“Pouco antes da ideia de explorarem o manganês do Amapá, o governador da época (Janary Nunes) acreditava no desenvolvimento econômico através da agricultura e da pecuária local, e esse galpão, além de ficar bem frente a uma ilha habitável, estava em um ponto estratégico dos seus planos”, descreveu Arthur Cézar Ferreira, para um jornal paraense no final da década de 1950. 

Usado para armazenar gêneros adquiridos pelo Governo Territorial, também deu suporte à mineradora ICOMI em seus primeiros anos de implantação na região santanense, servindo para guardar equipamentos e materiais essenciais para a montagem das instalações portuárias da mineradora em Santana, até a conclusão dos galpões permanentes da citada empresa. 

1965: Já haviam dois galpões
Vendo a utilidade constante do prédio – em paralelo com o crescimento demográfico da região hoje conhecida como Área Portuária de Santana – o Governo amapaense decidiu por volta de 1952, construir outro galpão ao lado, que também serviria como armazém de produtos (em sua maioria de gêneros alimentícios do ramo agrícola). 

Para definir suas localizações, eram popularmente chamados de Galpão nº 01 (o galpão mais antigo) e Galpão nº 02 (o mais novo) do Porto de Santana. 

Necrotério 
Em fevereiro de 1972, quando houve um inesperado incêndio envolvendo pelo menos quatro embarcações em frente ao Porto de Santana, o Galpão nº 01 teve grande importância durante o fato. 

Horas após o incêndio ser controlado por bombeiros lotados na mineradora ICOMI, os corpos de 16 pessoas foram vagarosamente retirados dos escombros das embarcações incendiadas e até das águas do Rio Amazonas, sendo que alguns ficaram armazenados em um pequeno espaço reservado na parte interna do Galpão nº 01, até que uma perícia fosse realizada pela Polícia de Macapá nas proximidades do incêndio. 

Cidade de Santana cresceria ao redor dos galpões
“Uma imagem tão triste de vermos um corpo ao lado do outro, todos queimados”, relembrou o aposentado Júlio do Amaral Fernandes, de 78 anos, hoje residente em Santana, na qual presenciou a retirada desses corpos por operários da ICOMI e colocados no citado galpão público, onde alguns cadáveres chegaram a aguardar até 24h pelo reconhecimento de amigos e familiares. 

Feiras Cobertas 
Entre o período final da década de 1970 e meados da década de 1980, o denominado Galpão nº 01 ficou sob o ostracismo do poder público, servindo apenas para acúmulo de entulhos e materiais inutilizáveis em serviços portuários. 

Até que na curta gestão governamental de Gilton Garcia seu espaço passou novamente a ter importância. 

Antigo galpão é o atual Superfácil/Santana
Em novembro de 1990, passou por uma simples reforma física e readaptações para servir de feira coberta para os comerciantes e agricultores que trabalhavam de modo informal num trecho da área portuária, onde o Governo Estadual vinha realizando serviços de urbanização. 

E o mesmo aconteceria com o Galpão nº 02, também adaptado para servir de feira coberta para cerca de 50 feirantes locais, até a conclusão dos trabalhos de urbanização da área portuária de Santana. 

Sua finalidade ainda se perdurou por quase três anos, ficando mais uma vez na linha do esquecimento público entre 1992 e 2004. 

Superfácil 
No início do ano de 2005, o Governo do Amapá decidiu ampliar o sistema de atendimento Superfácil para o município de Santana. De imediato, precisava de um amplo local que pudesse abrigar o novo órgão. 

Feito uma análise dos prédios pertencentes ao poder Público Estadual que existiam no perímetro urbano de Santana, foi constatado três que apresentavam condições de uso, porém, somente um estava situado numa área estratégica dos planos do governo estadual: justamente o histórico Galpão nº 01 da área portuária de Santana. 

Durante quase um ano, foram feitas diversas modificações no local, para que no dia 26 de junho de 2006, viesse a ser entregue à população santanense o Superfácil/Santana, abrigando 23 instituições estaduais e federais, que até hoje oferecem inúmeros serviços como emissão de carteira de identidade, de Trabalho, CNH, certidão de nascimento, além do recebimento de contas de luz, água, telefone, internet e outros.

Comentários

  1. bom dia, preciso de uma foto historica do porto para o livro de portos da américa do sul urgente, com resolução para grafica...flavio@fotoimagem.com

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  2. Bom dia
    Solicito auxílio urgentíssimo, vou precisar urgentíssimo de uma foto histórica do porto de Santana para o livro PORTOS DA AMÉRICA DO SUL E MARINHA DO BRASIL.
    Teria imagem em alta resolução? Ou outra imagem mais identificando o porto?
    Será inserido o nome em agradecimentos, bibliografia e possivelmente receberá um livro.

    Att.
    Flávio R. Berger

    (Jornalista /Autor/Editor/Fotógrafo)
    wattzapp +55 47-999846805

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