Populares nos anos de 1980/90, “Orelhões” sumirão em breve, aponta estudo

Até o início deste século XXI, era comum vermos alguém encostado em um aparelho desses, geralmente visto em esquina das ruas e avenidas mais movimentadas das grandes cidades brasileiras. 

Conhecido como “orelhões”, assim eram denominados os aparelhos de telefonia existentes em centenas de cidades do país desde 1973, quando a estatal Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações) distribuiu uma nova forma que facilitasse a comunicação para aqueles que ainda não dispunham de um aparelho fixo em sua residência. 

No Amapá – mais precisamente na segunda maior cidade do Estado – eles chegaram no início da década de 1980, chamando logo a atenção da pequena cidade e caindo no gosto do público juvenil. 

“Se dizer que viveu uma adolescência sem ter namorado pelo ‘orelhão’, pode dizer que está mentindo”, afirmou o professor André Cláudio, de 42 anos, da rede pública de ensino.

Segundo o professor, era prazeroso usar os “orelhões”, porém, o difícil era adquirir as fichas que se usavam para liberar as ligações. 

“No final dos anos 80, só havia dois pontos que vendiam fichas na cidade e um ficava na área portuária, ruim era pra quem morava no (bairro) Paraíso e tinha que ir comprar pra lá”, relembra. 

Auge e decadência
De acordo com o Anuário Estatístico do Governo do Amapá, de 1991, haviam cerca de 40 aparelhos de “orelhões” espalhados na área urbana de Santana, todos em pleno e completo funcionamento para os mais de 48 mil habitantes daquela época. 

Em 1995, o Executivo Municipal sancionou uma Lei Municipal que determinava a existência de pelo menos um aparelho de “orelhão” em frente das escolas municipais, o que foi cumprido periodicamente, mas acabou sendo desarticulado do sistema urbano no início dos anos 2000, quando a estatal que respondia pela manutenção desses aparelhos (antiga Teleamapá) foi privatizada. 

Em 2010, um levantamento apontado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) constatou que já existem menos de 10 mil aparelhos espalhados pelo país, onde menos de 30% procuram funcionar da mínimas condições. 

Um estudo que vem sendo realizado por um grupo de acadêmicos de uma faculdade de Macapá (do Curso de Comunicação) busca informações ligadas à história desses aparelhos no Amapá e o seu processo de decadência popular, onde os mesmos já preveem sua extinção em um prazo menos esperado. 

“Como o seu uso foi se tornando menor a cada ano, a única operadora de telefonia que ainda consolida pelos seus direitos físicos (a OI) já discutiu a sua previsão de extinção no prazo de 5 a 10 anos, mas creio isso se cumpra bem antes, talvez no máximo em três anos”, prevê o acadêmico Carlos Amaral. 

Segundo Carlos, a “ampliação exorbitante” de aparelhos celulares motivou que os “orelhões” não detessem mais desses direitos livres de uso. 

“Hoje em dia é mais fácil você pagar por uma conta mensal de linha de um aparelho celular do que ficar procurando alguma farmácia e ficar comprando créditos todos os dias”, comparou.

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