O “Irmão” que viu a Amcel como ninguém mais “viu”

Antes, o embarque de toras ficava no Porto do Céu
Foi durante uma prestação de serviço – em meados da década de 1980 – que um motorista de caçamba chamado Luiz Emanuel Nascimento da Silva estava fazendo para a empresa Amcel, quando receberia um convite inusitado de um funcionário daquele Grupo: estavam contratando novos profissionais para atuarem no transporte de máquinas pesadas e de cargas de grande e médio porte. 

“Nesse tempo, a mão-de-obra dessa área era muito escassa no Amapá e até precisavam buscar fora daqui”, conta Luiz Emanuel. 

Recém-chegado no então Território Federal do Amapá, trazendo a família, e tendo em mente as promessas de dias melhoras, o paraense Luiz Emanuel também deteve daquela mesma sensação de incerteza quando chegou à Macapá, achando que não alcançaria bons propósitos numa terra que nunca havia pisado. 

Luiz ao lado das novas carretas da Amcel, em 1991
“Uma cidade (se referindo a Macapá) tão pacata, bem diferente daquele movimento barulhento de Belém (PA), e isso me deixou pensativo de achar que aqui não iria prosperar”, previa Luiz, de maneira negativa. 

Porém, o destino lhe traçou caminhos inesquecíveis, quando começou a trabalhar como motorista de uma caçamba particular que prestava serviços para a empresa Amcel, carregando diversos tipos de materiais de construção. 

“Como a Amcel tinha um escritório em Santana, precisavam constantemente de materiais (como areia, seixo, piçarra) para usarem na base de fundação dos prédios administrativos, tanto dela como de outras empresas que ficavam na mesma área, como a ICOMI e a Codepa”, disse. 

E foi pelo ocasião de uma dessas entregas de materiais, que Luiz seria convidado a trabalhar na Amcel, naquele mês de dezembro de 1985. 

“No mesmo dia entreguei a caçamba pro dono e me apresentei no escritório da Amcel (em Santana) no dia seguinte.” 

Segundo Luiz, na época, os exames admissionais eram feitos na Brumasa e na Vila Amazonas, onde logo depois o contratado seguia para o local onde estaria lotado para trabalhar. 

Embarque inaugural: O "Irmão" aguardando na fila
“Assistíamos a um vídeo que contava todo o trabalho desenvolvido pelo Grupo CAEMI no Brasil e ao redor do mundo, que apresentava 29 empresas (no Brasil) e filiais espalhadas pelo restante do planeta”, pontuou. 

Inicialmente, ingressou como motorista convencional, acompanhando o projeto de plantio de pinus, desenvolvido no km-78 da BR-156, ondes testemunhou a retirada dos primeiros pinus de eucaliptos que haviam sido plantados ainda na década de 1970. 

Em 1988, ocorre um incidente em uma das caldeiras da Jari Celulose (principal compradora dos pinus da Amcel), forçando a empresa amapaense a dispensar temporariamente seus funcionários, enquanto a Jarí providenciava a manutenção corretiva de suas máquinas. Com menos de dois meses, Luiz é novamente admitido à empresa. 

O “Irmão” da Amcel
Por curiosidade, antigamente, era costume nas empresas (e até mesmo em boa parte da sociedade amapaense) identificarem uma pessoa através de algum apelido, que geralmente surgia através de fatos notórios ou engraçados. 

Até 1991, as toras eram embarcadas pelo Rio Matapí
Com Luiz Emanuel não seria diferente, que acabou recebendo o apelido de “Irmão”, em referência à sua denominação religiosa (evangélica). No entanto, o apelido não ficaria apenas ligado ao seu conceito religioso, mas também aos seus atos de companheirismo e fraternidade com que eram voltados ao mais próximo. 

“Cresci sem subir nas costas dos outros e ainda ajudei muitos a subirem na vida”, se orgulha de dizer. 

Momentos Marcantes
Por mais de duas décadas, o conhecido “Irmão” viu e viveu histórias de luta e determinação, além de acumular testemunhos de fatos históricos que a Amcel foi protagonista. 

Luiz, em área desmatada da Amcel
Em 1987, acompanhou a retirada dos primeiros pinus de eucaliptos que foram plantados no início do Projeto (ainda na década de 1970). 

Em outubro de 1991, assistiu a chegada das primeiras carretas modelo Volvo que seriam exclusivamente utilizadas no transporte de toras de pinus, através de embarque de balsas que ficavam ancoradas em um estaleiro existente no distrito do Porto do Céu. 

“Foram 29 carretas compradas pela Caemi, direto da fabricante (que ficava em Mogi das Cruzes-SP) e ainda cheiravam a tinta”, conta o motorista que logo se tornou um dos carreteiros que transportaria centenas de toneladas de toras de pinus, no trecho Porto Grande-Santana. 

Também foi de sua primordial participação no embarque inaugural de cavacos de pinus em 1993, quando esteve dirigindo uma das carretas da Amcel que transportava pinus de eucalipto para a fábrica de cavacos (recém-inaugurada em Santana). 

“Aquilo era um orgulho ver o nosso material seguir daqui (do Amapá) para o mundo”, referenciou. 

Entre as boas lembranças, também estavam as tristes recordações que foram a venda da Amcel (em 1996) para a Champion, e a segunda transação comercial de 2000, quando transferiram seu comando para a International Paper (IP). 

“Ainda na primeira venda (para a Champion) todos foram pego de surpresa com o anúncio através da imprensa, onde alguns pais de família foram dispensados e não voltaram mais. Já na segunda venda (para a IP) houve um pouco menos de demissão de trabalhadores, já que a empresa trabalhava apenas com terceirizados”, ressaltou Luiz. 

Em 2007, o “Irmão” foi se afastando da história de produção e exportação da Amcel, ficando apenas as inúmeras histórias vivenciadas ao longo de quase 22 anos em que acompanhou a vontade daqueles trabalhadores rurais que plantavam, colhiam e exportavam a nossa matéria-prima. 

“A capacidade de continuar crescendo no mercado vai da vontade comercial que a Amcel tem a oferecer aos seus compradores, por que matéria-prima ela tem, e uma boa produção que dá inveja a outras empresas”, detalhou Luiz Emanuel, hoje aos 65 anos, residente em Macapá, com a família.

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