“Nossa padroeira não iria ser Santa Ana”, revela devoto pioneiro

Imagem na entrada da cidade
No dia dedicado à Nossa Senhora de Santa Ana (26 de Julho), padroeira do segundo maior município do Estado do Amapá, o blog conversou com o aposentado José Raimundo Soares, conhecido como “Mundino”, com 68 anos, residente em Santana há mais de meio século, onde acompanha anualmente os eventos relacionados às festividades da padroeira local

Natural da cidade de Castanhal (PA), Mundino veio com a família para Santana no final da década de 1950, quando seu pai Raimundo Calixto Soares foi trabalhar na ICOMI na função de Auxiliar de Contabilidade. 

“Fomos morar numa vila de casas que chamavam de ‘Vila Toco’ onde hoje fica a fábrica da Amcel”, relembra o aposentado, que diz ter acompanhado os primeiros passos de construção da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, localizado nas proximidades da Vila Amazonas. 

“Nessa época, o padre Ângelo (Biraghi) conduzia todas as ordens sobre a Igreja Católica nessa região e muita gente via nele como um tipo de autoridade, tanto que os primeiros eventos de Santana foram idéia dele”, pontuou. 

Mundino conta que por volta de 1962, houve um interesse popular de ser realizada uma procissão dedicada à Santa Ana, o que acabou sendo embargada pela comunidade católica da época por não haver recursos (financeiros) suficientes para o evento e haver outras discussões ligadas à questões eclesiásticas. 

“Havia diversos vilarejos espalhados nessa região, sendo que as mais populosas eram a Vila Maia e a Vila Amazonas. Como a Vila Amazonas era habitada por pessoas ligadas à diretoria da ICOMI (que constantemente patrocinada diversos eventos sociais na região), a opinião dos devotos daquela vila operária era priorizada”, disse Mundino, que continuou: “Com isso, o padre Ângelo acatava quase todos os pedidos que vinham da Vila Amazonas, e um desses pedidos foi realizar uma procissão anual dedicada somente à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que era devota dos funcionários da ICOMI”. 

Ainda de acordo com Mundino, a vontade dos moradores da Vila Amazonas iria ser válida por longo período, até que em 1968, moradores que residiam em vilarejos distintos da região começaram a sugerir que outro “Santo” fosse favorecido com tais eventos. 

“Como a cidade ia crescendo por todos os lados e os vilarejos iam se unindo, formando bairros, começaram a perceber que viria uma cidade, e a existência de uma principal via de acesso (já denominada Avenida Santana desde 1966), fez com que os devotos pedissem a realização de uma procissão dedicada somente à Santa Ana”, contou. 

Após diversas reuniões e discussões que chegaram até a causar polêmica entre os moradores da Vila Maia e da Vila Amazonas, foi possível convencer os líderes católicos sobre a realização de mais um padroeiro local. 

“Se não fosse essa persistência de verem que o futuro nome da cidade tinha haver com o nome dessa Santa, com certeza não seria Santa Ana a nossa atual padroeira”, revela. 

Após a criação oficial do município de Santana em 1987, a devoção tornou-se Lei Municipal através da Lei n.º 029 do dia 23 de abril de 1990, reconhecendo anualmente o dia 26 de Julho como feriado municipal na cidade santanense.

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