Caos no setor elétrico leva população a interditar vias em Santana

Cansados de ficarem sofrendo com os constantes “apagões” que vem acontecendo em diversos bairros do município de Santana, moradores que residem nos bairros Paraíso e Fonte Nova tiveram que interditar na noite desta segunda-feira (21/03) diversos cruzamentos (ruas e avenidas) dos bairros como ato de indignação e revolta que consideram o desinteresse público da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) sobre a situação. 

Segundo moradores envolvidos – e outros que presenciaram – o ato, diversas interrupções no fornecimento de energia elétrica estão acontecendo, os referidos bairros Paraíso e Fonte Nova, além dos bairros Fé em Deus, Mutirão, Parque das Laranjeiras e Jardim de Deus I e II. 

“Já estamos cansados dessa falta de respeito com a população. Não basta o que tivemos que passar no ano passado com tanta falta de energia e isso acontecendo de novo? Chegamos no nosso limite, só assim brigamos por nossos direitos”, gritou revoltada a doméstica Kelly Pantoja, moradora do bairro Parque das Laranjeiras, que ainda disse sobre os prejuízos que estão sendo causados pelos “apagões” que ocorrem diariamente. 

“Tem comerciante que só tá contando os prejuízos que estão aumentando com esse vai-e-vem de falta de energia. Mas em compensação a conta continua vindo cara todo mês. Ainda da gente se não pagar pela conta, eles vem e cortam mesmo”, desabafou. 

Para interditar as ruas e avenidas, os moradores utilizaram diversos materiais de entulhos e lixos descartáveis, como pedações de madeira, pneus e troncos de arvores, onde fizeram as obstruções (ateando fogo) em trechos que servem de itinerário dos transportes coletivos, como forma de demonstrar às autoridades competentes a revolta que estão sentindo por esse descaso público. 

“Isso está uma bagunça sem tamanho. Estamos sendo desrespeitados de tal maneira que eles não atendem sequer nossas ligações quando querendo uma informação sobre esses desligamentos”, disse o comerciante André Sanches. 

O comerciante – que trabalha com o gênero de panificação e produtos congelados – contabilizou a perda de quase R$ 10 mil em menos de uma semana em razão das constantes interrupções elétricas. 

“Perdi a produção de pão de três dias por que não chegaram a ir para o forno e a massa acabou estragando, isso sem deixar de falar centenas de picolés que derreteram em dois dias. Com certeza a CEA não me ressarcir essas perdas tão cedo”, questionou o comerciante. 

Além das perdas de produtos dos comerciantes, também estão em risco de perda os materiais e medicamentos de uso na saúde pública. 

Manifestantes queimaram pneus no portão de
entrada da Eletronorte, em Santana.
O bioquímico Nataniel Rodrigues informou a blog sobre os produtos de uso do serviço municipal de saúde que ficam sob as constantes mudanças de temperatura em razão dos “apagões”. 

“Na semana passada quase que perdemos algumas vacinas que estavam armazenadas e achávamos que a falta de energia não iria demora. Como ultrapassou mais de seis horas, tivemos que levar essas vacinas para um posto de saúde se não a perda seria certa”, explicou o bioquímico, que ainda teme por novas interrupções nos próximos dias. “Ainda corremos o risco dessa energia ficar faltando toda hora”. 

Eletronorte
Depois do bloqueio de diversas vias, centenas de manifestantes (composto de moradores dos bairros afetados diariamente com os “apagões”) se dirigiram para a área frontal do parque térmico da Eletronorte, localizada na Rodovia Duca Serra, na entrada da cidade. 

A mesma ação tomada nos cruzamentos de Santana, também foi realizada em frente à área da Eletronorte, onde diversos pneus foram queimados como ato de represália popular. 

No portão da Eletronorte, manifestantes buscam
por informações sobre os "apagões diários".
“Só assim que eles terão mais consciência de nos olhar diante dessa pouca vergonha que passamos todos os dias”, disse a estudante Ana Lúcia Medeiros, da Escola Estadual Rodoval Borges (situada no bairro Fonte Nova), que precisou dispensar todos os estudantes do horário noturno em razão da longa espera para normalizar o fornecimento de energia. “O pior é que nós vamos ter que pagar esses dias de dispensa para não prejudicar o ano letivo, tudo por causa dessa bagunça que a CEA tá fazendo”. 

A estudante acompanhou os moradores que se dirigiram até a área da Eletronorte para buscarem satisfações em relação aos “apagões”, onde foram recebidos por um técnico da estatal que informou que o problema compete diretamente à CEA. 

“Eles nos informaram que não são mais responsáveis por qualquer situação ligada à rede elétrica e que tudo está agora a cargo da CEA”, explicou o autônomo Francisco Batista que, mesmo após tomarem conhecimento da isenção da Eletronorte sobre as interrupções, atearam fogo em pneus em frente ao portão de entrada da empresa. 

Cerca de 90 minutos após as manifestações tomarem conta da cidade santanense, o fornecimento de energia elétrica foi novamente sanado. 

Tentamos contato com a assessoria de comunicação da CEA através das redes sociais, mas não obtivemos êxito. 

Policiamento presente
Durante todo o período das manifestações ocorrida nos bairros Paraíso e Fonte Nova, viaturas da Polícia Militar de Santana estiveram presentes para manter a ordem das ações, porém, houve reclamações de pessoas que alegaram terem sofrido lesões corporais durante a explosão de um rojão de “bomba de efeito moral”, lançada por agentes da BPRE (Polícia Rodoviária Estadual). 

“Estamos apenas reivindicando por nossos direitos e não causando danos a ninguém”, indagou um dos manifestantes. 

Segundo um agente da BPRE, o disparo da “bomba” foi necessário para manter com que os manifestantes ficassem somente de um lado da pista da Rodovia Duca Serra, para evitar que o tráfego de veículos não fosse totalmente prejudicado. 

Informações repassadas por alguns manifestantes confirmaram que os protestos continuarão nesta terça-feira (22), sendo agora programado para acontecer em frente à agência da CEA de Santana.

Comentários