Sob pressão e negligências, terceirizados da CEA paralisam serviços por falta de pagamento

Mesmo com obstruções, terceirizados
da CEA buscam garantir vários
serviços para a população do Amapá.
Como se não bastasse o acidente fatal que culminou com a morte de um profissional da rede elétrica, ocorrido há quase três meses em Macapá, alguns eletricistas de empresas que prestam serviço à Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) estariam diante de novos riscos durante seus trabalhos de campo, além de estarem com seus salários atrasados há mais de dois meses. 

As informações foram enviadas ao blog através de funcionários de duas empresas (Mix Engenharia e Elinsa/Brasil), na qual pediram sigilo de nomes com receio de sofrerem represália por parte da estatal elétrica do Amapá. 

“A ordem de dentro da CEA é de todos ficarem calados diante dos erros e das negligências que acontecem na rua, seja o que vier, sendo bom ou ruim”, descreveu um eletricista terceirizado, que enviou a denúncia. 

As referidas empresas prestam serviços em áreas distintas da CEA, sendo que uma efetua corte e religação de consumidores (a Elinsa), e a outra empresa trabalha com os serviços de caráter emergencial (a Mix), também denominada de “Plantão Emergencial da CEA”. 

Segundo informações desses profissionais, as reclamações vão desde a pressão psicológica e moral para atingirem metas incalculáveis de serviços de corte a consumidores pendentes com faturas, assim como também a falta de condições técnicas e materiais a esses trabalhadores, e os constantes atrasos nos repasses dos pagamentos para esses trabalhadores. 

Metas a cumprirem
De acordo com a mensagem, eletricistas que trabalham efetuando cortes de consumidores recebem ordens diárias para cortarem um número elevado de residências, como forma de atingirem metas de arrecadação, independente do imóvel que esteja agendado para o corte estiver ou não com pessoas presentes, conforme determina a Lei Federal. 

“Todos os dias, o pessoal do corte tem que atender entre 70 a 100 residências que estejam com suas contas atrasadas, não interessando se tiver pessoas na casa. Tem que cortar do mesmo jeito”, disse o eletricista. 

O fato de efetuarem o corte em residências que não tem qualquer pessoa presente no imóvel já tem sido alvo antigo de diversas reclamações por parte da população amapaense. 

“Já aconteceu deles chegarem cortando a energia da minha casa e sequer tocaram na campainha pra avisarem que iriam desligar os fios. Só percebi que estava sem energia quando as lâmpadas de dentro de casa apagaram, e quando fui olhar lá fora, eles já tinham ido embora”, relatou a doméstica Francisca Corrêa, residente no bairro Paraíso. 

Ao ser indagado sobre esses cortes não-presenciais, uma equipe terceirizada respondeu que precisam cumprir metas diárias que são repassadas às empresas (prestadores) através de relatórios. 

Com rádios inoperantes, eletricistas utilizam
de seus celulares para entrar em contato com
a Central de Operações da CEA.
“Pela manhã, recebemos uma lista com 60 ou 70 clientes para serem cortados e temos que cumprir ela antes das duas ou três da tarde, e não tem como fazer toda a lista, por que saímos na parte da tarde para atender os pedidos de religações”, relatou um eletricista da empresa Elinsa. 

Comunicação inoperante
Outra denúncia encaminhada ao blog está ligada à parte da comunicação, onde os eletricistas da empresa que presta serviços emergenciais à CEA relatam que os rádios fixados nas viaturas não estão funcionando, o que coloca em risco a vida desses profissionais que procuram lhe dar com a energia elétrica como um fator de alta periculosidade. 

“A comunicação por esses rádios servem para informarmos ao Centro de Operações da CEA sobre as condições que a rede elétrica se encontra e se podemos trabalhar com ela sem sofrermos qualquer acidente. Mas como a transmissão pelos rádios foi desativada, temos que recorrer a outros meios”, descreveu o eletricista na mensagem, que se referiu ao fato desses profissionais da rede elétrica terem que utilizar de seus celulares (particulares) para efetuar ligações diretas para o Centro de Operações da CEA, o que prolonga muito mais na demora no atendimento com a população devido haver apenas um número fixo que atende somente uma equipe de campo por ligação. 

“Quando os rádios funcionavam, a comunicação era em tempo real com a central, o que mantinha o consumidor satisfeito com o atendimento. Mas por telefone, temos que esperar a nossa vez de sermos atendido, o que chega a levar até meia-hora, e isso se torna mais arriscado quando estamos trabalhando direto na rede elétrica”, continuou na mensagem. 

Mão-de-obra limitada
Além de terem que lhe dar com essa pressão institucional e a falta de condições técnicas, outro fator que foi questionado na mensagem está ligado à carência de trabalhadores em campo. 

Segundo o autor da mensagem, a estatal amapaense teria enviado um comunicado às empresas que lhe prestam serviço, solicitando uma redução no quadro de pessoal, mesmo sabendo que a demanda de consumo e de serviços tem se ampliado diariamente. 

“A CEA mandou reduzir a quantidade de eletricistas que trabalham no campo, alegando uma nova reformulação administrativa, mas em compensação aumentou os serviços para a pouca mão-de-obra existente. Isso tem causado um cansaço mental em vários eletricistas. É uma covardia”, reclamou na mensagem. 

Salários atrasados
De acordo com trabalhadores da empresa Mix Engenharia, os salários de pelo menos 80 funcionários (entre eletricistas e motoristas) estão atrasados há mais de dois meses, onde a empresa Mix justifica as razões desses atrasos por parte da CEA. 

“A CEA tá deixando de cumprir vários acordos firmados em contrato de prestação de serviço e quer agora determinar o valor que bem quiser para pagar as empresas. Isso é errado por lei”, reclamou um dos encarregados que trabalha na empresa Mix Engenharia. 

A empresa Mix Engenharia (foto) paralisou seus
serviços até que a CEA regularize os pagamentos.
Como forma de reivindicar por esses direitos trabalhistas, os mais de 80 funcionários que prestam serviço terceirizado para a estatal elétrica, paralisaram suas atividades desde ontem (09/11) pela manhã, enquanto não houver qualquer informação positiva por parte da subsidiária. 

“Não tem condições de continuar trabalhando por três meses e não recebermos o que é de direito. Quando resolverem pagar o que nos devem, voltaremos a trabalhar”, contestou o motorista Mário Santos. 

Com a paralisação desses profissionais, os serviços plantonistas da CEA – que são 100% terceirizados – ficou temporariamente a cargo de um número reduzido de funcionários do quadro efetivo da CEA que estão distribuídos nas cidades de Macapá e Santana. 

“São nove (09) equipes que trabalham nos serviços de plantão, sendo seis em Macapá e três em Santana. Com a paralisação desses trabalhadores, a CEA formou 04 equipes para atender em Macapá e somente uma equipe para Santana, o que já vem causando um grande transtorno para a população que já sofre com a pequena demanda de equipes que existem”, explicou Mário. 

Acidentes recentes
No último dia 27 de agosto, foi registrado um óbito na rede elétrica envolvendo o eletricista Márcio Aurélio, da empresa Mix Engenharia, que morreu durante os serviços de manutenção no circuito elétrico. 

De acordo com informações repassadas por colegas do eletricista morto, uma possível falha de comunicação entre os profissionais de campo e o Centro de Operações da CEA teria culminado no óbito. Até hoje a estatal elétrica ainda não emitiu o resultado oficial do laudo sobre a morte de Márcio Aurélio que, segundo informações, tinha quase 20 anos de experiência na área elétrica. 

“Se ninguém da CEA tomar uma providência sobre tudo isso que passamos, com certeza a população continuar sofrendo com o descaso de vários serviços que não serão realizados nos próximos dias”, alertou o denunciante na mensagem enviada ao blog, que no início desta semana entrou em contato com a assessoria de comunicação da CEA, mas até a tarde de ontem (09/11), nenhuma Nota havia sido emitida pela estatal elétrica.

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