30 mil amapaenses sofrem diariamente com “apagões” no Estado

"Apagão" do início dessa semana atingiu vários
bairros de Macapá e Santana.
Para alguns, esse número pode parecer um tanto exagerado, enquanto que para outros ainda é pouco se comparado aos diários “apagões” que o Estado do Amapá vem vivenciando nos últimos tempos, pois, segundo a diretoria da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), o sistema elétrico estadual já se encontra sobrecarregado – geração limitada – há um longo tempo, e vem operando precariamente para distribuir o importante produto (energia) para 13 municípios do Estado, embora que os municípios do Sul do Estado (Laranjal do Jarí e Vitória do Jarí) já estejam sendo atendidos pelo Linhão de Tucuruí (PA) há mais de dois meses, não é o mesmo privilegio que ocorre no município fronteiriço de Oiapoque, que deverá continuar operando através de geradores térmicos, devido está localizado numa área bem distante dos planos de expansão energética demarcados até então pela estatal amapaense. 

Apesar da concessionária elétrica do Amapá não divulgar publicamente seus relatórios técnicos que especifiquem claramente os reais motivos dessas constantes interrupções no fornecimento de energia elétrica, não chega a ser tão difícil de levantar os números populacionais e demográficos das pessoas que lamentam diariamente pelos “serviços incompletos e de má qualidade” da empresa. 

Um exemplo bem recente aconteceu no início dessa semana, onde o município de Porto Grande – localizado há pouco mais de 100km da capital Macapá – ficou mais de 14 horas sem energia elétrica. Ou seja, o 4º maior município do Estado, com pouco mais de 20 mil habitantes (IBGE 2013) “amargou” mais da metade de um dia sem o fornecimento elétrico que é considerado uma importante ferramenta na sociedade (refrigera produtos nos comércios e mantém o funcionamento de importantes maquinários em marcenarias, açougues, padarias, postos de gasolina, etc). 

Pessoas ficaram sem direção durante o "apagão"
noturno da última segunda-feira (20/07)
No mesmo dia, parte de alguns bairros da cidade de Santana (segundo maior município amapaense) também ficaram energia elétrica por mais de 4hs, o que somaria outros mais de 25 ou 30 mil habitantes prejudicados, ultrapassando um total superior de 50 mil pessoas sem energia elétrica em apenas um dia. 

O comparativo pode ser considerado um cálculo bastante proporcional, dependendo dos locais distintos que estejam sofrendo sem energia elétrica, onde alguns bairros (tanto Macapá ou de qualquer outro município amapaense) podem ter uma quantidade relativa de moradores, mas geralmente não é inferior a 20 ou 30 mil pessoas que estejam simultaneamente passando por algum “apagão doméstico”. 

Mapa do “Apagão”
O programa jornalístico AP-TV (transmitido diariamente pela TV Amapá Canal 6) criou na semana passada o um quadro chamado “Mapa do Apagão”, onde exibe constantemente reclamações de telespectadores que residem em alguma parte do Estado do Amapá, onde relatam – ou através de vídeos produzidos ou apenas via reclamação convencional – qualquer interrupção em seu fornecimento de energia elétrica. 

Somente nos dois primeiros dias dessa semana, o quadro televisivo recebeu diversas reclamações de telespectadores de inúmeros bairros, tanto de Macapá como de Santana que, além de questionarem pelas faltas constantes de energia elétrica que vem se propagando, foram todos unanimes em um ponto: não passam menos de 90 minutos (uma hora e meia) na escuridão. Uma situação que já podemos considerar que chegou ao extremo do caos no serviço público para a sociedade amapaense. 

Mas e o Linhão de Tucuruí?
Em meio a essa turbulência que agora vem se alarmando por causa desses “apagões”, nunca se deu tanta importância na questão de interligar o Amapá ao Sistema Elétrico Nacional como vem sendo cogitado atualmente. Apesar desse assunto ter sido amplamente discutido no Estado desde 1991 (período em que o Amapá viveu um histórico racionamento no setor elétrico), o Poder Público Estadual acabou deixando de lado esse projeto com o passar dos anos, quando achava que o sistema de geração isolada do Amapá (diga-se a UHE Coaracy Nunes, em Ferreira Gomes) iria suprir a demanda energética do Estado por tempo indeterminado. 

Com os constantes "apagões", comerciantes
recorrem à compra de geradores próprios para não
perderem seus produtos congelados.
No entanto, a culpa não chega a ser diretamente considerada ao Poder Estadual (o Governo do Amapá), pois, a partir de 1995, houve uma intensa preocupação das autoridades sobre esse assunto, principalmente pelo fato de abranger e auxiliar na economia do Estado, já que a Área de Livre Comércio de Macapá e Santana começava a proporcionar aspectos positivos para o Amapá, influenciando na implantação de novas empresas na região. 

O Governo Estadual – que era o acionista majoritário da CEA nessa época – buscou alternativas técnicas e administrativas para estruturar a estatal elétrica de acordo com as resoluções e determinações mantidas até então. Ou seja, assim como era desenvolvido trabalhos de expansão energética (urbana e rural), também eram efetuados estudos periódicos na demanda elétrica do sistema de geração e distribuição, numa amigável parceria que havia entre a CEA/Eletronorte e os governos Estadual/Federal. 

Um fator tão claro dessa seriedade que o Poder Estadual tinha com o setor elétrico do Amapá deixa bem claro que até o final do ano de 2014, o número de reclamações relacionadas ao sistema era esporádico, mantendo-se a nível bem considerado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). 

Mas sabemos desde o dia 19 de janeiro desse ano – quando o Amapá viveu o primeiro dos cinco grandes “blecautes” já ocorridos somente este ano – que a CEA já não sabe o que fazer para solucionar essa questão. Tanto que a bandeira levantada pela estatal, desde o início do ano, que prega a idéia de interligar o quanto antes o Amapá com o restante do país, vendo sem lamentavelmente descartada por determinação da Justiça Federal que deu parecer favorável ao Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) que ainda não conseguiu concluir os trabalhos de duplicação da Rodovia Tancredo Neves em virtude de uma quantidade de postes que se encontram ao longo do trecho inicial da BR-156, que vai passando o bairro Brasil Novo até a entrada do km-21 da BR-156. 

Entre mais uma das tantas “desculpas” já divulgadas à população, a CEA agora diz que espera uma atitude da empresa responsável pelo serviço de telefonia em retirar seus cabos (cordoalhas) telefônicos do posteamento e assim repassar esse posteamento para outro local. Mas fico me perguntando umas coisas nessa situação do posteamento: a CEA não foi notificada para retirar esse posteamento há vários anos quando o projeto de duplicação da rodovia estava começando? E por quê ela não retirou no tempo determinado? Do que então serve o setor de engenharia da CEA que não atentou para esses detalhes quando o Linhão de Tucuruí fosse atravessar esse lado da pista? 

Isso são pontos que vemos como “falhas técnicas” que uma estatal comete internamente e não procura tomar providências adequadas, sendo que no final o principal sujeito que acaba realmente sendo punido e castigado é a população que, além de pagar caro por um consumo de energia elétrica, ainda tem que sofrer com a péssima qualidade de seu fornecimento.

Comentários