“A cerâmica já movimentou 40% da nossa economia”

Fábrica de cerâmica abandonada no Elesbão
A frase – considerada uma afirmação historicamente otimista – partiu do senhor José Fernando Mesquita (também popularmente conhecido como o “Zé da Olaria”), hoje com seus 76 anos e que um dia já foi considerado um dos maiores empresários do ramo cerâmico no Amapá. 

Natural das Ilhas do Pará, José Fernando (ou “Zé da Olaria”) também comerciante na região de Gurupá (PA) na década de 1960 quando ouviu falar do movimento econômico que estava ocorrendo no então Território Federal do Amapá. 

“Falavam muito que aqui era a terra do manganês, e que estavam chamando muita gente para trabalhar na mina. Achei que ainda não era minha hora”, disse. 

Para o farto comerciante do interior, o comércio de gêneros diversificados ainda lhe garantiria o sustento dos três (03) filhos e da esposa. Porém, quando começou a perceber que o movimento em seu estabelecimento estava caindo – em virtude de muitas famílias estarem deixando o interior para se empregarem no Amapá – o então comerciante decidiu tomar um novo rumo na vida: vir para a terra do manganês. 

Setor cerâmico já movimentou 40% da economia
“Vim para cá em 1971 e fiquei trabalhando como braçal na ICOMI (empresa que explorou o manganês do Amapá por 50 anos) por quase onze anos. E foi trabalho pesado”, contou seu José, considerando que sua função mantinha aquela famosa obrigatoriedade funcional: tendo hora para começar e sem hora para terminar. 

Somente em meados da década de 1980 que lhe veio novamente a vontade de se tornar um empreendedor independente. Com a ajuda dos filhos (já crescidos e trabalhando) decidiram montar uma fábrica de cerâmica em Santana, que inicialmente funcionou como depósito de outras empresas e posteriormente evoluiu no objetivo. 

“Já havia uma olaria que funcionava atrás dos tanques de combustíveis da ICOMI, mas era pouco procurada. Morava lá uma família e o dono alugou ela pra mim por dois anos, daí comecei a investir na área”, relembrou o pioneiro. 

O ano era 1986. Vendo que a olaria ficava bastante afastada da área urbana, precisou comprar um veículo pesado (camionete), onde passou a comercializar tijolos para pequenos comerciantes da área portuária. “Não via muito lucro no início. Quase que desisto desse ramo.” 

Somente no final da década de 1980 que o negócio começou a crescer, com o advento de empresas que se instalariam em Macapá e Santana. “Como precisavam montar a estrutura física de vários galpões e muros, souberam que havia a minha olaria e comecei a ver o movimento de venda”, contou. 

Para que pudesse atender a demanda de encomendas, o conhecido “Zé da Olaria” teve que adquirir mais uma camionete (modelo Ford) e aumentou o quadro de trabalhadores (que antes havia iniciado com apenas 03 braçais) e agora chegaria a 22 homens, que reversavam a produção de tijolos e telhas entre os horários do dia e da noite. 

“Tinha dia que chegava para organizar o local às sete da manhã e só saía dez horas da noite.”, disse o ex-empresário, que conseguiu ampliar seus negócios com a compra de outra área – também localizada no atual distrito do Elesbão – onde desenvolveu o mesmo projeto industrial. “Foi nesse tempo que diziam que o comércio de cerâmica e olarias já movimentava quase 40% da economia do Amapá. Era maravilhoso ver que o dinheiro era produzido aqui mesmo e girava aqui mesmo”. 

Poucas empresas do ramo se mantêm no distrito
A decadência do setor
Segundo o pioneiro, a decadência do ramo cerâmico no município pode ter iniciado em meados da década de 1990, com a chegada excessiva de outras empresas que seguiriam a mesma área comercial. 

“Até 1993 ou 94 não havia mais do que quatro ou cinco olarias ou cerâmica equipadas no Ramal do Elesbão que sabiam dividir seus clientes sem ter tanta concorrência, mas começaram a vim empresas de fora do Estado que prometeram ajudar no Estado, mas só fizeram foi deixar prejuízos materiais e ambientais”, lamentou o ex-empresário, se referindo à atual imagem pública que pode ser vista distrito santanense que um dia manteve mais de 20 grandes empresas do ramo cerâmico e oleiro: diversas estruturas abandonadas, e tomadas pelo matagal. 

Segundo informações cedidas dos arquivos da atual Secretaria de Estado da Indústria, Comércio do Amapá (Seicom), entre os anos de 1991 e 1994, o Estado registrou a presença de 55 empresas do ramo cerâmico, sendo que 15 estavam instaladas em Santana. Porém, em 1999, esse número caiu para 10, tendo atualmente (2015) somente seis (06) atualmente legalmente em Santana.

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