Sem funcionar, Ferrovia do Amapá vai aos poucos desaparecendo...

Ferrovia do Amapá funcionou por quase 60 anos
Houve um tempo (não tão distante de nossa atualidade) que era fascinante viajar dentro de um vagão de trem, saindo de uma estação ferroviária em Santana, com destino ao longínquo município de Serra do Navio, situado há pouco mais de 200km da capital amapaense (Macapá). 

No percurso, oito (08) pontos de paradas para o embarque e desembarque de moradores e colonos residentes em localidades interioranas espalhadas nas imediações da histórica Estrada de Ferro do Amapá (EFA), esta construída em meados da década de 1950, na qual serviria inicialmente para o transporte de minério de manganês exportado pela Indústria e Comércio de Minérios Ltda (ICOMI), que retirava o minério de montanhas minerais localizadas na região do Rio Amaparí. 

Moradias ocuparam espaço próximo da EFA
Após meio século de uso comercial por sua primeira arrendatária, a EFA ainda passaria pelas mãos de outras três empresas de renome, também mantendo a mesma postura e comodidade técnica e operacional da ferrovia. 

Porém, em fevereiro deste ano, a empresa Zamin Mineração (atual concessora da ferrovia) paralisou a circulação dos trens que não apenas serviam para o transporte de colonos que comercializam produtos agrícolas nas feiras rurais de Macapá e Santana, como também carregavam passageiros para outros três municípios amapaenses (Porto Grande, Pedra Branca do Amaparí e Serra do Navio). Tudo em virtude de uma crise financeira que atingiu a empresa no Amapá. 

Em alguns trechos, a ferrovia já sumiu
Acompanhando a linha férrea pela área urbana do município de Santana, logo surgiriam as primeiras construções ilegais de moradias ainda no final do século XX, fato que desrespeitaria um Decreto Federal de 1958, que concederia um limite de 30m para cada lado da ferrovia, como faixa proibida para qualquer acesso imobiliário. Mas para aqueles que não tinham outra opção de moradia, a necessidade os obrigou a erguer centenas de barracos rudimentares, mesmo sabendo dos grandes riscos que estariam tomando. 

Natureza “substitui” ferrovia
Passados mais de dois meses em que a última empresa concessora da EFA suspendeu o funcionamento comercial dos trens, nenhum serviço sequer de manutenção e conservação dos trilhos foi novamente efetuado, deixando com que a vegetação formada pela natureza tomasse conta da estrada ferroviária que um dia contribuiu significativamente para a economia do Amapá. 

Trecho da EFA na saída da cidade de Santana
De tão notável que a ferrovia já vai desaparecendo que no km-70 já existem pequenas árvores frutíferas que estão se desenvolvendo entre os trilhos e dormentes. Quem trafega pelas saídas da cidade de Santana, com destino à Macapá pela Rodovia Duca Serra, logo percebe que alguns pontos da ferrovia já se “escondem” em meio ao extenso matagal que cresceu periodicamente na área. 

Montada com uma bitola-padrão para sua “era de ouro” (sendo a única ferrovia brasileira com tal bitola a ser construída no país sob encomenda), a EFA vai aos poucos se tornando apenas uma lembrança material – ainda notoriamente visível – para as futuras gerações que tampouco puderam ter o privilégio de embarcar em algum vagão e viajar de maneira litorina. 

Dos trechos ferroviários que ainda restam (devido estarem cruzando com ruas e avenidas urbanas), espera-se apenas que as autoridades políticas tomem ciência da triste situação deixada pela iniciativa privada.

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