Às margens do trilho, em Santana, famílias pedem solução para moradia

Para Sebastião dos Santos Bastos, de 56 anos, a solução para as famílias que moram às margens do trilho da Estrada de Ferro do Amapá, na região do município de Santana, é o remanejamento. O homem vive há uma década no local, e reclama da falta de água tratada e energia elétrica para os moradores. 

Bastos participou junto a líderes comunitários e outros moradores da região de uma audiência pública na manhã desta sexta-feira (1º/11), na Câmara de Vereadores de Santana. Na ocasião, foi discutido o destino das mais de 2 mil famílias residentes às margens do trilho. 

Representantes dos moradores reclamam que as famílias que moram nas proximidades da via férrea - que corta os bairros central, Área Comercial, Piçarreira, Paraíso, Fonte Nova e Jardim de Deus - "estão esquecidas pelo poder público". Eles apontam o perigo iminente de acidentes no trecho, lembrando os registros de mortes de pessoas atingidas pelo trem. 

"Nosso interesse é que o Município destine uma área para que possamos sair de lá. Aquele local não é área para ser habitada. O trem passa jogando pó de minério, prejudicando a saúde, principalmente das crianças. Isso sem falar do perigo do trem descarrilar e provocar uma tragédia", destacou Sebastião Bastos. 

Um dos moradores mais antigos da região, Abel Perez dos Santos, de 78 anos, disse que "a comunidade só é lembrada em época de eleição". O homem mora há 33 anos numa área conhecida como São João Apóstolo. "Nenhuma autoridade olha por nós. As únicas melhorias foram feitas por nós mesmos, 'no braço'. Mas, quando chove, enfrentamos situações críticas. Ficamos por conta da sorte", acrescentou Abel dos Santos. 

O técnico em infraestrutura do Instituto de Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Amapá (Imap) João Bosco Melém disse que a área de segurança na região compreende 30 metros de cada lado do trilho. Ele acrescentou que a solução para o problema enfrentado pelos moradores é para médio prazo. "Além da questão fundiária, surgem os problemas sociais. Estado e Município não podem se omitir a esses problemas gerados pela ocupação, como a falta de saúde, segurança pública. Essa ocupação não é só em Santana, mas ao longo de toda a Estrada de Ferro", disse Bosco. 

O proponente do debate, vereador pelo município de Santana Vinicius Santos (PSB), destacou também como fato agravante uma decisão judicial que determina a saída dos moradores das proximidades do trilho. "Os moradores estão nessa área de risco. Há famílias que moram na região há mais de 30 anos. O trem passando é um perigo constante para esses moradores. A intenção aqui é chegar a uma solução definitiva para essas famílias. Se for retirar, que as destine a uma nova área", ressaltou o vereador. 

Mais de seis décadas
A Estrada de Ferro do Amapá está em operação há mais de 60 anos. Foi construída na década de 1950 pela extinta Indústria e Comércio de Minérios (Icomi), para transportar manganês entre os municípios de Serra do Navio e Santana, no Amapá, onde o minério era embarcado. A Icomi deixou o Amapá em 2007. Atualmente, a via férrea é administrada pela Anglo American, que comprou o passivo da Icomi.

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