Porto privado estimula especulação imobiliária

Porto privado estimula especulação imobiliáriaEstima-se que R$ 5 milhões foram investidos na faixa litorânea depois que a companhia Cianport, do Grupo Agrosoja, de Mato Grosso, anunciou que vai instalar um porto privado na Ilha de Santana para exportar soja e milho.

A notícia de que a Cianport (Companhia Norte de Navegação e Portos), do Grupo Agrosoja, de Mato Grosso, vai instalar um porto privado para escoar milho e soja do Centro-Oeste espalhou-se como um rastilho de pólvora na Ilha de Santana. Do dia para a noite, a faixa litorânea do Campo da Natureza, em frente ao Matadouro do Braga, transformou-se num filão de negócios, estimulando a especulação imobiliária. Perdura a lei do silêncio, mas, extraoficialmente, calcula-se que já foram investidos R$ 5 milhões na aquisição de uma faixa de terra de três quilômetros às margens do Rio Amazonas, que adentra mil metros no interior da ilha.

Rosilene de Abreu mora em uma casa na ilha, cujo terreno tem o perfil que interessa aos atravessadores que negociaram com a Cianport. São 500 metros de frente às margens do Amazonas por 1,2 mil metros de fundo. Há dez anos, ela cria porcos, carneiros, galinhas e tem um pomar onde colhe acerola, goiaba, cupuaçu, abacaxi, murici e açaí. "Tenho uma renda de R$ 20 mil por ano e não vou vender meu terreno por menos de R$ 100 mil", explica Rosilene, que já recebeu ofertas que iniciaram em R$ 35 mil e dobraram de preço.

Enquanto resiste à sanha dos especuladores, Rosilene disse que só venderia sua casa e as benfeitorias diretamente para a Cianport. "A implantação do porto na ilha vai ser importante para todos nós, mas a especulação está rolando solta, inclusive, a associação de moradores vai se reunir para discutir o assunto", disse Rosilene. Ela contou que cinco moradores já venderam suas casas no litoral, por preços que variam de R$ 35 mil a R$ 70 mil.

Maria das Neves confirmou que seu filho Elizeu vendeu o terreno para o veterinário Moisés. "Não sei o sobrenome dele, mas o doutor Moisés comprou o terreno por R$ 70 mil e deve ter lucrado muito, pois ele vendeu também o terreno que era dele, bem na entrada da ilha, para a companhia", disse Maria das Neves. No terreno de Elizeu também havia criação de animais domésticos e plantação de árvores frutíferas.

Rosilene e Maria das Neves sabem que o cenário rústico da Ilha de Santana - com casas simples, árvores frutíferas e criação de animais domésticos, bares de tecnomelody e trapiches de madeira - está com os dias contados. Pelo menos no Campo da Natureza, onde a especulação imobiliária chegou com a notícia da construção do porto graneleiro, e não tem data para terminar. 

Novos negócios da soja - Diretor do Grupo Agrosoja, o empresário Cláudio Zancanaro não fala em valores e preferiu não comentar sobre a especulação imobiliária desencadeada na Ilha de Santana. Mas confirmou a criação da Companhia Norte de Navegação e Portos (Cianport), formada por investidores dos municípios de Lucas do Rio Verde e Sorriso, no Mato Groso, grandes produtores de soja e milho. “Criamos a Cianport no Amapá no final do ano passado, e vamos construir um porto graneleiro na Ilha de Santana com armazém e silos para exportar milho e soja”, disse.

Zancanaro disse que os empresários do Centro-Oeste tinham três alternativas para escoar sua produção, cujos destinos atuais são os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR): Santarém, Belém e Santana. “Optamos por Santana pelo entendimento e parcerias com as autoridades do Estado e do município”, explicou. Ele disse que o empreendimento, na primeira fase, inclui o investimento na Companhia Docas de Santana (CDSA).

Sem falar em valores, na Ilha de Santana, Zancanaro disse que a Cianport adquiriu as posses e indenizou as benfeitorias dos moradores, que residiam às margens do Rio Amazonas. “Além da aquisição e indenização das benfeitorias, o governo do Estado fez a doação onerosa para a Cianport dos títulos de cinco pequenos proprietários”, afirmou.

“Vamos reduzir 1.100 km de rodovias e colocar 800 km de hidrovias no transporte dos grãos até o porto da Ilha de Santana”, calcula. Zancanaro avalia que o investimento na logística de transporte é um bom negócio para todos os parceiros. “Todos serão beneficiados: o governo do Amapá, o município de Santa, os empresários do Mato Grosso e do Amapá e os trabalhadores”, enfatiza.

“Não vamos criar apenas os empregos na construção do porto ou no transporte da soja e do milho. Acima de tudo, com a soja e o milho mais baratos, vamos abrir oportunidades de novos negócios no Estado, como fábricas de ração e granjas”, concluiu.

Texto copiado do Jornal A Gazeta Amapá

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